Transformação na matriz econômica estimulou o amadurecimento da cadeia produtiva
Navegantes vive um momento de transformação na matriz econômica, consolidando a cadeia produtiva e a atividade portuária, mas vendo outros setores despontarem, como serviços, logística e construção civil. A cidade já deu um salto nos últimos anos, se tornando a 15ª economia do estado, com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 6,1 bilhões, segundo dados do IBGE de 2021, e projeta chegar ao top 10 de SC.
O crescimento foi de 23,72% em relação a 2020, o maior do estado, superando as médias de Santa Catarina (6,8%) e do Brasil (4,8%). Na Amfri, a cidade só fica atrás de Itajaí e Balneário Camboriú. A indústria e os serviços responderam pela maior parte do resultado. No PIB per capita, o valor foi de R$ 71,6 mil, colocando Navegantes na 4ª posição estadual entre as cidades com mais de 50 mil habitantes.
O desempenho tem a ver com a movimentação portuária, puxada pela Portonave, e o fortalecimento de setores ligado à economia do mar. Desde 2020, porém, o setor de serviços e a construção civil têm ganhado destaque. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico e Receita, Rodrigo Silveira, a economia de Navegantes está cada vez mais diversificada.
“É claro que a economia azul é uma grande vocação. Nossos estaleiros, a nossa indústria da pesca, toda a cadeia de produção, são uma fortaleza da cidade que vai continuar crescendo. Mas a novidade é que Navegantes agora atrai outros investimentos em construção civil, logística, comércio e serviços em geral”, analisa.
Os indicadores atuais demonstram a efervescência econômica. “Navegantes é hoje a cidade que mais cresce em Santa Catarina. Dizemos isso com base no aumento na repartição do ICMS em SC, com um crescimento acima de 40% em cinco anos”, informa. “Geramos 8,6 mil empregos desde 2019 e a arrecadação da prefeitura dobrou, dando um grande impulso aos investimentos em serviços e obras”, completa.
Em 2023, o município somou receitas brutas de R$ 652,3 milhões, figurando na 12ª posição estadual, segundo o IBGE. Na arrecadação de impostos municipais, sendo o ISS o principal, houve alta de 138% em três anos e meio, entre dezembro de 2020 até junho de 2024, com a receita passando de R$ 77,2 milhões para R$ 184,3 milhões, conforme dados do município. Na participação do ICMS, foram quase R$ 118 milhões repassados em junho. A projeção é chegar em R$ 152 milhões em dezembro de 2025.
A chegada de novas empresas, além das obras de adequação no porto e maior agilidade na duplicação da BR 470 completam as boas perspectivas para a cidade. A prefeitura também criou incentivo pra abertura de empresas, com a desburocratização de processos, e está dando andamento a um pacote de obras de reurbanização pra melhorar a mobilidade especialmente na região central e no entorno do aeroporto.
Geração de empregos e novas empresas
A geração de empregos reflete o crescimento da economia de Navegantes. Nos últimos cinco anos, foram 8,6 mil novos empregos formais. A cidade, que liderou a alta de vagas em 2023 em Santa Catarina, teve saldo de 1114 postos neste ano, até junho, conforme dados do Caged, do Ministério do Trabalho. Esse foi o 4º melhor desempenho na Amfri, puxado pela indústria e os serviços.
Os dois setores lideram o trabalho com carteira assinada, com 9401 empregos na indústria e 8385 no setor de serviços, que teve alta de quase 50% na ocupação desde 2020. Essa taxa é considerada um “movimento natural” para uma cidade litorânea, segundo a prefeitura, estimulado pela desburocratização e o incentivo aos pequenos e médios negócios.
Na criação de vagas, o comércio também cresceu, respondendo hoje por mais de cinco mil postos de trabalho, mas foi a construção civil que teve um “boom”, pelos novos projetos imobiliários. O setor saltou de 1340 empregos em 2020 para 3969 até junho de 2024. “A construção civil está ganhando cada vez mais força na cidade, se tornado um dos setores que mais emprega”, destaca a vice-presidente do Sinduscon, Jamille Vargas.
A maior empregabilidade está ligada à chegada de novas empresas. Foram 315 novos negócios registrados neste ano até julho, ante 435 empresas criadas no ano inteiro em 2023. O secretário Rodrigo Silveira explica que a desburocratização pra abertura de empresa e a redução do ISS em segmentos estratégicos para o crescimento dos serviços, entre agenciamento de cargas, turismo, tecnologia e atividades administrativas, viabilizam a geração de novos negócios.
“Uma grande ação foi a simplificação e digitalização de processos que realizamos na prefeitura. Isto possibilitou milhares de novos CNPJs registrados na cidade, impulsionando a formalização e a arrecadação de ISS na modalidade do Simples Nacional, que mais do que triplicou em três anos”, informa. O recolhimento do imposto passou de R$ 3 milhões para 10,5 milhões no período.
Cidade caminha para ser polo logístico estadual
O setor logístico é um dos que têm recebido novos empreendimentos. Navegantes foi escolhida pela Mattel, maior fabricante de brinquedos do mundo, para instalar seu novo centro de distribuição no Brasil. A unidade de 21 mil metros quadrados dobrou a capacidade de armazenamento da empresa, dona das marcas Barbie, Hot Wheels e Fisher-Price.
O novo centro contará com apoio da cadeia logística do grupo Maersk, gigante mundial do transporte marítimo. A ligação com o complexo portuário de Itajaí, aeroporto e BRs faz diferença para a atratividade das empresas do setor. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Silveira, o avanço da duplicação da BR 470, faltando agora só a conclusão dos viadutos, melhora o cenário.
“Nosso maior gargalo hoje não é mais a BR 470 e, sim, a BR 101, que precisa das suas marginais, terceiras faixas e novas pontes no curto prazo, e de um contorno rodoviário no médio prazo, nos mesmos moldes do que acabou de ser inaugurado na Grande Florianópolis. É uma pauta regional que precisa ser vencida com união”, avalia.
Já as obras no cais da Portonave, o licenciamento para o novo terminal de passageiros do aeroporto e a contratação pelo governo estadual de uma empresa pra elaboração do projeto de ferrovia entre Araquari e Navegantes trazem boas perspectivas. “Isto sinaliza ao mercado que a cidade será o polo logístico de Santa Catarina nas próximas décadas”, afirma.
Investimento de R$ 300 milhões em complexo logístico
Em operação desde 2022 e inaugurado em 2023, o complexo multissetorial Navepark, às margens da BR 101 e perto do viaduto da 470, chegou para atender a demanda logística da região, com infraestrutura completa para a instalação de empresas. O grupo Embralot, responsável pelo projeto, prevê investimentos de R$ 300 milhões, com geração de mais de três mil empregos quando a estrutura estiver a pleno vapor.
O condomínio empresarial tem áreas para 134 galpões, 67 na primeira fase, já entregues, e outros 67 na segunda fase, em 2024. O complexo soma quase 300 mil metros quadrados, numa região estratégica da cidade perto dos portos, aeroporto e rodovias federais para atender diferentes tipos de empresas. Em sua plenitude, o Navepark deve responder por 1% do PIB catarinense, na projeção da Embralot.
O investimento fortalece a vocação logística de Navegantes, que tem cerca de 30% das empresas voltadas para o setor e estimativa de crescimento anual de 20% da atividade. A política de incentivos fiscais do município e medidas de desburocratização tem ajudado a atrair novas empresas e diversificar a economia, impactando também na geração de empregos.
Porto mais eficiente do Brasil
O Porto de Navegantes fechou o primeiro semestre de 2024 com movimentação de 638.476 TEUs (unidade de contêiner) e a melhor produtividade de navio do país, com média de 118 movimentos por hora, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). No semestre, foram 266 escalas de navios recebidos.
A empresa segue com investimentos para movimentar mais contêineres e aumentar a eficiência. Desde janeiro são tocadas as obras de adequação do cais para receber navios de até 400 metros de comprimento, num investimento de R$ 1 bilhão. No momento, a nova fundação é feita no lado leste do cais, pela primeira fase da obra. Na segunda fase, as obras seguirão no lado oeste.
Fotos: Fabrício Pitella, João Batista, divulgação/Mattel, divulgação/Portonave e divulgação/Embralot