Primeiro porto privado do país fez a economia do município saltar 10 posições no ranking catarinense de Produto Interno Bruto (PIB) em 17 anos
Parece que foi ontem que os primeiros portêineres despontaram na paisagem da foz do rio Itajaí-açu, deixando de queixo caído os moradores que nunca tinham visto um equipamento daquele porte na região. Era o primeiro sinal da transformação econômica e social de Navegantes, motivada pela instalação da Portonave, e que hoje se desdobra em várias frentes no município, para além da atividade portuária.
O primeiro impacto foi a geração de empregos e a diversificação de atividades, antes concentradas no varejo, pesca e construção naval. Após 17 anos de atividade, o primeiro porto privado de contêineres do país é o maior empregador da cidade e conta hoje com 1231 trabalhadores. Em 2023, a empresa arrecadou R$ 30 milhões em Imposto Sobre Serviço (ISS) para o município, o que representa 40% da arrecadação total das empresas da cidade.
Esse valor se multiplica se considerarmos a geração de 5,5 mil empregos indiretos na região, oriundos de empresas de logística. São galpões de armazenagem, distribuição e comércio exterior que se multiplicaram às margens das rodovias, principalmente após a inauguração da Via Portuária, que liga o município à BR 470, em 2010, ao custo de R$ 15 milhões. Segundo dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, do total de CNPJs ativos no município em abril de 2024, 1292 são de empresas do segmento logístico.
Evolução tecnológica exigiu investimento em educação continuada
Desde a chegada do primeiro navio da MSC a Navegantes, o crescimento da empresa foi exponencial. Em 2010, o porto atingiu a marca de 10 milhões de contêineres. Após o projeto de expansão, em 2015, a empresa alcançou, em 2017, 49% do mercado portuário no estado. Em 2020, conquistou o mercado islâmico graças ao Certificado Halal. Em 2022, atingiu novamente a marca de 10 milhões de contêineres. E este ano começaram as obras no cais, um investimento de R$ 1 bilhão para receber navios de até 400 metros de comprimento, a fim de manter a competitividade.
Para que tudo isso fosse possível, foi necessário investir na formação da mão de obra, colaborando para elevar o nível educacional do município e contribuir para o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Desde 2008, passaram pela Portonave, através do programa Jovem Aprendiz, 720 jovens, dos quais 20% foram efetivados.
Para os funcionários, a empresa oferece um subsídio de 80% para realização de cursos técnicos, ensino superior, pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) e idiomas, elevando para 34% o número de funcionários graduados e para 12% os pós-graduados. Já passaram pelo programa de formação continuada 3 mil profissionais. Agora, o desafio é aumentar a participação de mulheres e promover a equidade de gênero. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), apenas 17% das vagas são ocupadas por mulheres.
Crescimento econômico estimulou a construção civil e serviços
A atração de investimentos promovida pelo porto fez com que outros setores econômicos também crescessem. Para atender à demanda crescente por moradia, o setor de construção civil aumentou em número, mas principalmente na qualidade dos projetos imobiliários, atraindo compradores de maior poder aquisitivo. Só em tributos oriundos de transações imobiliárias, como IPTU, ISS e ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), o montante arrecadado pelo município passou de R$ 77 milhões em 2020 para R$ 184,3 milhões em 2024, um aumento de 138,96%.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Silveira, conta que, nos últimos seis anos, foram criados oito mil empregos. “Numa cidade que tem 86 mil pessoas, é quase 10% da população”, compara. Ele acredita que a cidade já está chegando a um patamar em que não vai depender de um único segmento para sustentar o desenvolvimento econômico, como na fase dos estaleiros, que entrou em crise em 2014.
Em 2019, segundo dados do Caged, que mede a temperatura da economia através da contratação via CLT, o setor que mais empregou na cidade foi o comércio, com 1369 vagas. No ano passado, o setor de serviços ganhou protagonismo, com 2228 vagas. “Isso mostra que, com mais gente morando na cidade, abriram mais mercados, padarias, postos, bares que não são sazonais, como antes”, comemora.
Outro dado que corrobora com essa tese é o aumento significativo dos tributos, especialmente em nível estadual, que colocou Navegantes no topo do ranking que mede a geração de riqueza dos municípios, através do Índice de Participação dos Municípios (44,54%). Rodrigo revela que essa façanha resultou numa “explosão de arrecadação”.
No caso do ICMS, em janeiro de 2021, a movimentação de riqueza gerou ao município um repasse de R$ 55.448.189,96; e em junho deste ano, o montante chegou a R$ 117.696.396,78, mais que o dobro em quatro anos. “Isso resulta em maior capacidade financeira para abrir escolas, postos de saúde, asfaltar avenidas, devolvendo os tributos em melhorias”, garante.
Recuperação da restinga mudou a cara da orla
Para colocar em prática um projeto do tamanho da Portonave, foi necessário captar recursos estrangeiros, sendo a principal acionista a empresa suíça Terminal Investment Ltda (TiL), que opera mais de 70 terminais portuários, do grupo MSC (Mediterranean Shipping Company). O empreendimento se instalou na Ponta da Divineia justamente pela falta de infraestrutura do local, um investimento do tipo greenfield, em que a empresa fica encarregada de transformar a localidade num parque industrial, evitando, por exemplo, entraves para desapropriações, como acontece em Itajaí para a construção de sua via portuária.
O impacto ambiental foi compensado com um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público, com a missão de recuperação da restinga através do replantio de mata nativa e construção de deques que protegem a vegetação.
O projeto “Nossa Praia”, de 2015, executado em parceria com a prefeitura e com a participação da comunidade, mudou a cara da orla, recolocou Navegantes no roteiro do ecoturismo e criou uma cultura de proteção ambiental.
“Meus filhos tinham oito e 12 anos quando os levei para fazer o replantio da restinga. O tempo foi passando, meus filhos cresceram, já são adultos, e cada vez que passamos por ali eles procuram pela muda que plantaram, mas a vegetação cresceu de tal forma que é impossível”, festeja a servidora pública Maila dos Santos, 49 anos. Segundo ela, este projeto promoveu um sentimento de pertencimento na comunidade. “A partir do momento em que eles sentem esse pertencimento, ajudam a preservar. E quando eles tiverem filhos, vão ensinar a ter amor pela restinga, a ter cuidado porque fizeram parte do processo”, acredita.
O Projeto Onda atua junto aos alunos da rede pública municipal. Este ano, foi promovido um mutirão de limpeza através da ação “Juntos pelo Rio” (2024). Além de ações institucionais, a empresa apoia projetos culturais e esportivos através de leis de incentivo, que resgatam as tradições e valorizam a identidade local, tais como o Surfe Sem Limites (2019) e Dançar e Brilhar – Cidades Portuárias (2021). No primeiro semestre, mais 20 projetos foram apoiados.
Fotos: Divulgação/Portonave e Freepik