Os sabores e a determinação da chef Tia Elfi

Aos 74 anos, ela toca sozinha a cozinha do seu restaurante

O nome Tia Elfi é tão conhecido em Navegantes quanto sua comida. Elfi Packer, 74 anos, toca sozinha a cozinha do restaurante que leva o seu nome, enquanto o filho Jaquison atende o salão e ajuda na limpeza. O local é modesto, mas serve uma comida com o mesmo sabor daquelas feitas pelas avós - o comer bem desperta as memórias afetivas.

Tia Elfi aprendeu a cozinhar com a mãe. A comida é feita no imenso fogão à lenha que ela acende por volta das 7h da manhã e na sua cozinha não entra nada químico, nem panela de pressão. Ela usa apenas ingredientes naturais, vegetais e temperos que escolhe pessoalmente na verdureira, onde diariamente é a primeira a chegar.


Mas sua história em Navegantes é bem anterior à 22 de dezembro de 1989, quando inaugurou o restaurante, que abre de domingo a domingo. Trabalho é uma coisa que não a assusta.     

Elfi nasceu em Ibirama, se criou em Indaial e vive em Navegantes há mais de 50 anos. “Vim para casar. Saí vestida de noiva da casa de meus pais, casei na Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes e desde então essa passou a ser a minha cidade”, conta com os olhos marejados. A partir daí ela fez história como uma mulher de garra e determinação. 

“Nos primeiros seis meses de casados eu e meu marido dormimos numa cama de solteiro porque não podíamos comprar uma de casal. Mas trabalhamos muito e conquistamos as coisas com muita luta”, lembra.


Elfi e Ercides moravam na quadra do mar, num local que era praticamente uma chácara no centro da cidade, de frente para a avenida Prefeito Juvenal Mafra. Lá ela mantinha uma plantação de morangos, cultivava hortaliças, que vendia para vizinhos e para outras pessoas que vinham buscar sua produção em casa. No mesmo terreno criava vacas de leite. Elfi também fazia diariamente 37 pães, que era a capacidade do forno à lenha que tinha na época, e nesse mesmo forno ela assava carnes. A produção das hortaliças, leite, pães e carnes garantia o sustento da família.

“Naquele tempo só tinha a padaria do Mané Evaldo no centro e as pessoas gostavam do leite tirado na hora. Eu ordenhava as vacas bem cedo e assim as pessoas tinham leite recém tirado para o café da manhã”.Elfi conta, com um grande sorriso, que naqueles tempos, os caminhos da praia eram os caminhos das vacas. “Inclusive das minhas”. 


Elfi criou três filhos e ajudou o marido na construção civil. “Naquela época ninguém ganhava de mim na betoneira”, conta aos risos. Ercides era construtor e conhecido em toda Navegantes por "Tijolinho".

Hoje, além de comandar sozinha a cozinha, Elfi ajuda o filho na gestão do restaurante. O mais curioso de tudo isso é que Elfi não foi alfabetizada, porém entende de gestão como poucos. Sabedoria que o tempo e a vida lhe deram. 

“Sou uma mulher que cuida muito das coisas, do dinheiro que entra, dos boletos que temos que pagar, e também cálculo certinho a quantidade de comida que preciso fazer para que não haja perdas”, diz cheia de orgulho. São, em média, 60 refeições que ela prepara por dia.


Fotos: Joca Baggio